26 dezembro 2015

RETROSPETIVA: «SUPER-HOMEM IV - EM BUSCA DA PAZ»





   Qual destes trabalhos parece ser mais difícil para o Super-Homem? Impor a paz mundial ou salvar uma franquia cinematográfica decadente? Apesar de todos os seus poderes e boa vontade, foi neste último que o herói falhou. Marcando assim a saída pouco airosa do ator que o imortalizou e o início de uma longa travessia do deserto que manteve o Homem de Aço arredado do grande ecrã por quase duas décadas.

Título original: Superman IV - The Quest for Peace
Ano: 1987
País: EUA
Género: Ação/Aventura/Fantasia
Duração: 90 minutos
Produção: Menahem Golan e Yoram Globus
Realização: Sidney J. Furie
Argumento: Lawrence Konner, Mark Rosenthal e Christopher Reeve
Distribuição: Warner Bros. e Cannon Films
Elenco: Christopher Reeve (Super-Homem/Clark Kent), Gene Hackman (Lex Luthor), Margot Kidder (Lois Lane), Jackie Cooper (Perry White), Marc McClure (Jimmy Olsen), Jon Cryer (Lenny Luthor),Sam Wanamaker (David Warfield), Mariel Hemingway (Lacy Warfield) e Mark Pillow (Homem-Nuclear)
Orçamento: 17 milhões de dólares
Receitas: 36,7 milhões de dólares

Herói global, sem deixar de ser um ícone americano.

Desenvolvimento: Em 1983, na esteira dos dececionantes resultados de crítica e de bilheteira obtidos por Superman III, Christopher Reeve e os produtores Alexander e Ilya Salkind concordaram não haver futuro para a franquia. Três anos depois - em consequência do fracasso de Supergirl (1984) - os Salkind venderam os direitos da saga à Cannon Films. 
    A braços na altura com graves problemas de tesouraria, os mandachuvas da Cannon viram nesse negócio a  tábua de salvação do estúdio. Convictos de que poderiam dar um novo impulso à franquia do Homem de Aço, avançaram para a produção de um quarto filme. Não concebiam, no entanto, o projeto sem a participação das principais estrelas do elenco dos seus predecessores. Que, com maior ou menor relutância, lá acederam a assinar contrato. Christopher Reeve foi mesmo o mais difícil de convencer. E só aceitou repetir o papel que o imortalizou junto do grande público a troco de financiamento da Cannon para Street Smart, película de que seria cabeça de cartaz um par de anos depois. Como bónus adicional, o ator foi convidado a acumular as funções de coargumentista da nova aventura cinematográfica do herói que tão bem conhecia.
  Dispondo de um orçamento que ascendia inicialmente a 36 milhões de dólares, a produção pareceu enguiçada desde o começo. Os primeiros problemas surgiram logo na hora de escolher o respetivo realizador. Richard Donner, que dirigira Superman  e parte  substancial de Superman II antes de ser descartado, foi o primeiro a ser sondado. Declinou, no entanto, o convite que lhe foi endereçado por Golan e Globus.
   Seguiu-se então uma abordagem a Richard Lester, o substituto de Donner que assumira a direção de Superman II e Superman III. Porém, a sua resposta foi tirada a papel químico daquela que fora dada pelo seu antecessor. Ou seja, uma rotunda nega.
  Após estas duas tentativas falhadas, a Cannon conseguiu assegurar os serviços de Wes Craven. No entanto, o mestre do cinema de terror, celebrizado por filmes como Pesadelo em Elm Street, mal teve tempo para aquecer a cadeira de realizador. Devido a divergências criativas com Christopher Reeve, Craven acabaria afastado do projeto sem apelo nem agravo.
  A escolha final recairia, assim, sobre o canadiano Sidney J. Furie. Veterano da 7ª arte com uma filmografia extensa e diversificada, tivera o ponto mais alto da sua carreira como realizador em 1966. Ano em que arrebatou um Bafta (homólogos britânicos dos Óscares) na categoria de melhor filme a cores.

Sidney J. Furie (esq.) e Christopher Reeve durante uma pausa nas filmagens.

  Consensualizado o nome do realizador, foi definido o cronograma da produção. No entanto, em vésperas do arranque das filmagens, novo balde de água fria lançado sobre a equipa. Enfrentando cada vez mais sérios problemas de liquidez, a Cannon anunciou a redução do orçamento do projeto para menos de metade (17 milhões de dólares). 
   Em virtude destas severas restrições orçamentais, à produção não restou outro remédio senão cortar nas despesas. Mesmo naquelas que, à partida, deveriam ser intocáveis num projeto do género. Com efeito, uma das medidas mais drásticas - e desastrosas para o resultado final - consistiu na reutilização de efeitos especiais. Sobrevindo ainda a falta de verba para custear filmagens em Nova Iorque, cidade escolhida nos anteriores capítulos da saga para fazer as vezes de Metrópolis.
 Na sua autobiografia publicada em 1999, Christopher Reeve descrevia assim os incontáveis constrangimentos colocados à produção de Superman IV - The Quest for Peace: "Fomos afetados por cortes orçamentais em todos os departamentos. A Cannon tinha na altura aproximadamente trinta projetos em carteira e não reservou qualquer tratamento especial ao nosso.Uma das situações mais caricatas de que me recordo foi quando tivemos de filmar a cena em que o Super-Homem aterra na rua adjacente à sede da ONU, em Nova Iorque. Se houvesse uma cena similar num dos primeiros filmes da saga, ela teria sido gravada no próprio local. Richard Donner teria coreografado centenas de transeuntes e de veículos a circularem, assim como curiosos que assomariam às janelas dos edifícios circundantes para observar o desfile triunfal do herói. Em vez disso, tivemos de rodar a cena em causa num parque industrial na Inglaterra, sob chuva intensa e dispondo apenas de um punhado de figurantes. Para recriar vagamente a atmosfera nova-iorquina, alguém se lembrou de postar um vendedor ambulante de cachorros-quentes com o seu pitoresco carrinho,emoldurados ambos por uns quantos pombos a cirandar pela calçada. Mesmo que a história tivesse sido brilhante, duvido que, dadas as circunstâncias que envolveram a produção, o filme tivesse correspondido às expectativas dos fãs.


Uma das sequências reutilizadas em diversos momentos da película.

   Corroborando esta análise, Jon Cryer contou em entrevista um episódio ocorrido ainda durante a rodagem do filme. De acordo com o ator que representou o desmiolado sobrinho de Lex Luthor, certa vez Christopher Reeve puxou-o para um canto e disse-lhe: "Isto vai ser um desastre total!". Apesar de ter gostado de contracenar com Reeve e Gene Hackman, Cryer sustentava na referida entrevista que, em consequência da falta de verba do estúdio, foi uma película remendada e inacabada aquela que chegou às salas de cinema.
 Outras revelações surpreendentes foram feitas em 2006 por Mark Rosenthal, um dos autores da trama de Superman IV- The Quest for Peace. No seu comentário incluído no DVD do filme, chamou a atenção para a galeria de cenas cortadas. Segundo Rosenthal, esta continha sequências inéditas que, no total, perfariam aproximadamente 85 minutos. Material não utilizado que os responsáveis do projeto esperavam poder servir de base a um quinto capítulo da saga. 
  Numas dessas cenas cortadas, Clark Kent visitava os túmulos dos pais adotivos antes do seu encontro com o empreiteiro a quem tinha a esperança de vender ou arrendar a quinta da família. Noutra, o Super-Homem levava o pequeno Jeremy num passeio orbital, a fim de lhe mostrar que o mundo é realmente o lar de toda a Humanidade. À semelhança, porém, de uma sequência idêntica tendo como intervenientes Lacy Warfield e o Homem-Nuclear, Jeremy não usava qualquer fato protetor nesta sua excursão espacial. Apenas um dos muitos erros grosseiros detetados na montagem do filme. E que ilustram bem o amadorismo que ressumbrava de toda a produção.




Quem precisa de oxígénio para sobreviver no vácuo sideral quando se tem o Super-Homem por perto?

Enredo: Na órbita terrestre, uma equipa de cosmonautas soviéticos é salva pelo Super-Homem depois da sua nave ter sido atingida por detritos espaciais. Feito o resgate, Clark Kent visita Smallville, a pequena cidade do Kansas onde cresceu. Agora que os seus pais adotivos morreram, ele herdou a quinta da família outrora vibrante de vida.
  Num celeiro vazio, Clark esconde a cápsula que o trouxe para o nosso planeta, retirando do seu interior um módulo energético com a forma de um cristal luminescente de cor verde. Este contém uma gravação áudio com a voz de Lara. A mãe biológica do herói adverte-o de que o poder do artefacto apenas poderá ser utilizado uma vez. Renitente em vender a propriedade dos Kents a um empreiteiro com planos para convertê-la num centro comercial, Clark regressa a Metrópolis sem concluir o negócio.
 Chegado ao Planeta Diário, Clark e os restantes repórteres são convocados para uma reunião, na qual são informados da situação de insolvência em que se encontra o jornal. Que é agora propriedade do magnata David Warfield. Este, depois de demitir Perry White, nomeia a própria filha, Lacy, para o cargo de diretora interina. Mas as surpresas não se ficam por aí.
 Apesar da sua timidez superlativa, Clark cai nas boas graças da estonteante Lacy, que não se furta a esforços para seduzi-lo. Após muita insistência da parte da sua nova chefe - e com muito encorajamento de Lois Lane à mistura - o pacato jornalista lá concorda em participar num encontro a quatro com as duas mulheres e o seu alter ego heroico. Encontro esse marcado por todo o tipo de peripécias, com Clark e o Super-Homem a revezarem-se, sem que nenhuma das participantes femininas suspeite do que quer que seja.
   É anunciado entretanto o falhanço de uma cimeira ao mais alto nível entre os EUA e  a URSS. Resultando daí uma nova corrida armamentista e uma escalada de tensão entre as duas superpotências. Com o espectro de uma guerra nuclear a pairar sobre o mundo, Clark questiona-se sobre o papel que o Super-Homem deverá ter na crise.
  Dias depois, chega à redação do Planeta Diário uma angustiada missiva endereçada ao Homem de Aço. O remetente é  um menino chamado Jeremy que escolheu essa via para manifestar a sua preocupação relativamente ao destino da Humanidade. A mensagem termina com um pungente apelo à ajuda do Super-Homem para evitar que o pior aconteça. Sensibilizado pelas palavras da criança, Clark voa até à sua Fortaleza da Solidão, no Ártico, em busca de aconselhamento.
  Questionando Lara e os anciões kryptonianos sobre qual a melhor medida a tomar, Kal-El obtém como resposta um lembrete da sua interdição de interferir no curso da História humana. Sendo-lhe igualmente sugerido que, em derradeira instância, troque a Terra por um planeta onde a guerra faça parte de um passado longínquo.

A braços com um dilema, o Homem de Aço procura aconselhamento junto dos seus ancestrais.

  De volta a Metrópolis, o Homem de Aço procura Lois Lane, a quem também pede conselhos sobre qual a melhor decisão a tomar. Depois de ela lhe dizer que confiará no seu julgamento, o herói apresenta-se perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas. Num discurso emotivo, anuncia a sua intenção de destruir todos os arsenais nucleares existentes, para assim evitar que a Terra sofra destino igual ao do seu mundo natal. Decisão entusiasticamente aplaudida pelos delegados e pelo público nas galerias, onde também se encontram  Lois e o pequeno Jeremy.
   Cumprindo a vontade do herói, nos dias seguintes vários países disparam ogivas nucleares para a órbita terrestre, sendo as mesmas prontamente recolhidas pelo Super-Homem. Depois de acondicioná-las numa gigantesca rede, O Último Filho de Krypton arremessa-as em direção ao Sol, garantindo dessa forma a sua destruição.
 Enquanto isso, Lenny Luthor, o desmiolado sobrinho de Lex Luthor, consegue libertar o tio do campo de trabalhos forçados onde este cumpria a sua longa pena. Reinstalado em Metrópolis, o arqui-inimigo do Super-Homem reúne-se na sua luxuosa cobertura com um triunvirato internacional de traficantes de armas. Exasperados com os prejuízos que a nova empreitada do Homem de Aço lhes está a causar, os homens contratam Luthor para liquidar o herói.
  Sem delongas, o diabólico plano de Luthor é posto em marcha. Disfarçados de turistas, ele e Lenny visitam o Museu do Super-Homem. Aproveitando o ensejo para surripiar um fio de cabelo do herói que estava em exposição. A ideia é usá-lo como matriz genética para a criação de uma duplicata superpoderosa do Homem de Aço. Precisando, para isso, de  lançar a amostra de ADN no Sol, já que é do astro-rei que ele extrai a sua força.
 Agora disfarçado de militar de alta patente, Luthor consegue infiltrar-se numa operação de lançamento de uma ogiva nuclear norte-americana. Quando o míssil disparado atinge a órbita da Terra, é prontamente intercetado pelo Super-Homem. Enquanto o arremessa em direção ao Sol, o herói nem imagina que no seu interior segue a matriz genética concebida por Luthor.
  Quando a detonação ocorre, dá-se um prodigioso fenómeno. Envolto numa pulsante bola de energia, um vulto ganha forma até se transformar no Homem-Nuclear. Voando ao encontro do "pai" em Metrópolis, o poderoso ser é instruído por Luthor a matar o Super-Homem.

Luthor radiante com o seu menino de ouro.
   A violenta refrega entre o Homem de Aço e a criatura levam-nos até aos céus de Nova Iorque. Enquanto tenta impedir que a Estátua da Liberdade esmague a multidão abaixo, o Super-Homem é arranhado pelas garras do seu adversário. Ficando dessa forma infetado pela radiação que emana do Homem-Nuclear. Este, tirando proveito da fraqueza e desnorte do herói, golpeia-o com tanta força que o projeta a grande distância. No final, tudo o que parece restar do Super-Homem é a sua capa drapejante que flutua vagarosamente até ao solo.
   Agora reciclado num tabloide sensacionalista, o Planeta Diário chega às bancas com a manchete Super-Homem Morto?. Revoltada com a abordagem mórbida do jornal ao desaparecimento do seu amado, Lois Lane apresenta o seu pedido de demissão após reclamar para si a posse da capa do herói. Determinada, ela visita de seguida um enfermo Clark Kent, refugiado há dias no seu apartamento. No decurso da conversa entre ambos, Lois proclama o seu amor incondicional ao Super-Homem. Ganhando renovado alento, após a saída de Lois Clark usa o cristal kryptoniano que removera da sua nave para se curar e restaurar os seus superpoderes.
   Enquanto isso, um enfurecido Homem-Nuclear provoca um pandemónio no coração da cidade enquanto exige que tragam à sua presença Lacy Warfield, por quem desenvolveu uma estranha obsessão, Completamente restabelecido, o Super-Homem entra em cena e convence o vilão a segui-lo até ao local onde supostamente a jovem se encontra à sua espera. Em vez disso, o Homem de Aço consegue empurrar o seu antagonista para dentro de um elevador, que se apressa a transportar até à face oculta da Lua.
 Privado da radiação solar, o Homem-Nuclear tem os seus poderes desativados. No entanto, à medida que a luz do astro-rei começa a varrer a superfície do satélite, penetra também no interior do elevador através de pequenas brechas na porta do mesmo. Recuperando a sua pujança, o Homem-Nuclear liberta-se da sua cela improvisada e ataca furiosamente o Super-Homem.

O Homem de Aço prestes a sentir o peso da derrota.
   Novamente sobrepujado, o herói krptoniano é enterrado vivo na superfície lunar pelo seu adversário. Que, sem perda de tempo, voa a supervelocidade até à redação do Planeta Diário para raptar uma apavorada Lacy Warfield.
    Na Lua, o Super-Homem consegue emergir da sua sepultura e usa toda a sua força para deslocar o corpo celeste para fora da sua órbita, objetivando causar um eclipse solar. Fenómeno que anula de imediato os poderes do Homem-Nuclear.
    Após resgatar Lacy, o herói deposita o corpo inerte do vilão no interior da chaminé de uma usina nuclear, pondo assim um ponto final à sua breve existência. Em consequência disso, a rede elétrica nacional regista um súbito pico energético.
   No Planeta Diário, Perry White anuncia a obtenção de um empréstimo que lhe permitiu reaver a sua posição de acionista maioritário, libertando assim o jornal do controlo dos Warfields.
  Numa conferência de imprensa, o Super-Homem declara que os seus desígnios foram apenas parcialmente bem-sucedidos. Encerrando a sua preleção com uma citação atribuída a Winston Churchill: "Haverá paz quando os povos do mundo a desejarem com tal ardor que os seus governantes não poderão negar-lha."
  Devolvendo Luthor à prisão, o Homem de Aço tem ainda tempo para deixar Lenny num reformatório antes de partir para o seu tradicional voo orbital.

Trailer:




Prémios e nomeações: Previsivelmente, este derradeiro capítulo da quadrilogia do Homem de Aço estrelada por Christopher Reeve foi arrasado sem dó nem piedade pela crítica. As duas únicas nomeações que recebeu foram para os Golden Raspberry Awards (prémios que distinguem o que de pior se faz em matéria de cinema), nas categorias de Pior Atriz Secundária (Mariel Hemingway, no papel de Lacy Warfield) e Piores Efeitos Especiais. Sem que, contudo, nenhuma dessas nomeações se traduzisse na atribuição do indesejado galardão. Daryl Hannah, pela sua prestação em Wall Street, e Tubarão IV- A Vingança foram os piores entre os piores nas categorias indicadas.

Mariel Hemingway como Lacy Warfield, papel de que a atriz decerto não se orgulhará.
Curiosidades:

* Segundo Margot Kidder, ela e Christopher Reeve não se falavam fora do set de filmagens. Ainda de acordo com a atriz, a relação pessoal e profissional entre ambos (recorde-se que o casal contracenou nos quatro filmes da saga), deteriorou-se devido ao ego insuflado de Reeve que, desta vez, acumulava as funções de coargumentista. Não obstante, Reeve arrepender-se-ia publicamente da sua participação no projeto, que considerava ter sido uma nódoa na sua filmografia;
*Mark Pillow teve em Homem-Nuclear o seu primeiro e único papel cinematográfico. O vilão - que originalmente estava previsto ter um gémeo - dispôs apenas de onze linhas em todo o filme. O Homem-Nuclear (Nuclear Man, em inglês) trata-se, com efeito, de uma versão moderna de Atom Man, personagem que apareceu pela primeira vez em 1950 no folhetim cinematográfico Atom Man versus Superman, estrelado por Kirk Alyn;

O visual primitivo do Homem-Nuclear.
*Em finais de 1987, a DC Comics lançou a quadrinização oficial de Superman IV-The Quest for Peace. A história, escrita por Bob Rozakis e com arte de Curt Swan, incorporava algumas das cenas cortadas do filme.Numa delas, era retratado o confronto do Super-Homem com um protótipo do Homem-Nuclear, cuja fisionomia fazia lembrar Bizarro (ver prontuário do vilão já publicado neste blogue). Também alguns dos diálogos originais foram alterados, assim como algumas das sequências. Exemplo disso foi a substituição da voz de Lara por uma projeção holográfica de Jor-El na cena em que Clark regressa à Fortaleza da Solidão em busca de um misterioso cristal;

Superman IV:  do cinema para os quadradinhos.
* No filme, o Super-Homem exibe poderes nunca vistos na BD. Manifestando supostas habilidades telecinéticas - já presentes em Superman II - o herói reconstrói parte da Grande Muralha da China com umas misteriosas rajadas óticas. Apesar das dúvidas e especulações suscitadas por esta circunstância, a explicação é do mais prosaico que há. Originalmente, o Homem de Aço reconstruiria manualmente a muralha usando a sua supervelocidade. Cena que obrigaria ao emprego de uma panóplia de efeitos especiais dispendiosos. Dada a falta de verba, a solução passou então pelo famoso "golpe de vista" do herói;
* Em momento algum do filme é feita qualquer referência a Supergirl (1984), spin-off produzido entre Superman III e Superman IV;
* Os 90 minutos de duração de Superman IV- The Quest for Peace fazem dele a segunda fita mais curta da filmografia do Homem de Aço. O primeiro lugar do pódio é ocupado por Superman and the Mole Man (1951), com apenas 58 minutos;
* Julgando ter um blockbuster entre mãos, a Cannon Films ordenou a redução da duração da película por forma a aumentar o número de exibições diárias nos cinemas. As receitas de bilheteira acabariam, contudo, por ficar muito abaixo do esperado;
* Superman IV - The Quest for Peace marcou a pouco airosa despedida de Christopher Reeve na interpretação do herói kryptoniano e o início de um longo exílio cinematográfico do Homem de Aço. Foi preciso esperar 19 anos para testemunhar o regresso do Super-Homem ao grande ecrã. Quinto e último capítulo da franquia, Superman Returns (2006) assumiu-se, porém, como uma sequela direta dos dois primeiros filmes. Fazendo, portanto, tábua rasa dos eventos narrados em Superman III e Superman IV.

Choque de titãs tendo o espectador como vencido antecipado.
Veredito: 30%


   Mesmo tendo sido este um dos filmes com super-heróis que mais marcou a minha infância e pré-adolescência (muito antes da industrialização do género empreendida pelos estúdios Marvel neste século), não há como fugir à inescapável verdade de que Super-Homem IV - Em Busca da Paz foi um fiasco a vários níveis.  
  Fracassou desde logo na intenção de reabilitar uma franquia deixada pelas ruas da amargura após a inusitada abordagem humorística levada a cabo por Richard Lester em Super-Homem III. Apesar da tentativa de restauração da idoneidade do herói, conferindo-lhe o estatuto de protetor global, o enredo, com mais buracos do que um queijo suíço,  acaba por ser inadvertidamente cómico. Surtindo, portanto, um efeito contrário ao desejado. 
  Bem vistas as coisas, a maior ameaça apresentada ao herói na história não é o Homem-Nuclear (que apesar de fazer lembrar um surfista viciado em esteroides, é, ainda assim, menos ridículo do que a sua versão primitiva), mas sim uma gripe(!). Risível, por isso, a cena em que um Clark Kent febril e fungoso recebe a visita de Lois Lane em sua casa, pejada de lenços de papel usados. Sem mencionar as muitas gafes que é possível sinalizar ao longo do filme, como o absurdo passeio orbital de Lacy Warfield, vestida como se de uma ida ao teatro se tratasse.
  Levando em conta os constrangimentos financeiros e de ordem técnica que marcaram a produção, dificilmente o resultado final poderia ter sido diferente. Pressentindo o desastre, o elenco evidencia pouco brio profissional e até Christopher Reeve (acometido de tiques de vedetismo) mal consegue disfarçar o seu cansaço em relação ao papel que, nove anos antes, o catapultara para o estrelato. Um verdadeiro frete para atores mal dirigidos por um realizador incompetente, cuja inépcia não é totalmente camuflada por uma trama inconsistente e por efeitos especiais de quinta categoria. Fatores que colocam Super-Homem IV- Em Busca da Paz no limiar da série B.
  Pouco de positivo haverá, de facto, a destacar neste filme tóxico, espécie de Batman & Robin da franquia do Homem de Aço. Exceção feita ao imortal tema musical de John Williams que o acompanha na despedida. Fim desonroso para uma saga cujos dois primeiros capítulos figuram ainda hoje entre o que de melhor já foi feito dentro do género super-heroico.