16 dezembro 2015

GALERIA DE VILÕES: ESPANTALHO



   Fruto da imaginação dos criadores do Batman, estreou-se em plena Idade do Ouro dos Quadradinhos, mas demorou a afirmar-se como arqui-inimigo do Cavaleiro das Trevas. Mestre na arte de instilar o medo, banqueteia-se com as fobias dos seus adversários e já por diversas vezes submergiu Gotham e o seu soturno guardião em intermináveis pesadelos de insanidade.

Nome original da personagem: Scarecrow
Licenciadora: DC Comics
Criadores: Bob Kane e Bill Finger
Primeira aparição: World's Finest nº3 (setembro de 1941)
Identidade civil: Jonathan Crane
Local de nascimento: Arlen (no estado norte-americano da Geórgia)
Parentes conhecidos: Mary e Marion Keeny (respetivamente, bisavó e avó maternas, ambas falecidas), Karen Keeny (mãe), Gerald Crane (pai) e uma meia-irmã de nome desconhecido
Afiliação: Ex-membro temporário da Tropa Sinestro, fez também parte do Gangue da Injustiça, da Liga da Injustiça, da Sociedade Secreta de Supervilões e da Legião do Mal
Base de operações: Gotham City
Armas, poderes e habilidades: Outrora um brilhante professor de Psicologia, Jonathan Crane especializou-se no estudo do medo. Tirando proveito dos seus amplos conhecimentos de Química, desenvolveu um gás indutor de alucinações aterrorizantes para usar nas suas experiências nesse campo. A máscara que usa serve, pois, tanto para se proteger dos efeitos do próprio gás como para potenciá-los nas suas vítimas. Isso não impediu, contudo, que a sua exposição prolongada à toxina lhe tenha causado lesões cerebrais permanentes. Decorrendo daí uma quase total ausência de medo ou fobias, sendo Batman a única exceção. Uma vez que o Espantalho é viciado no medo, esse facto leva-o a procurar compulsivamente o confronto com o Cavaleiro das Trevas.
  Mesmo não sendo fisicamente intimidante, quando obrigado a travar combates corpo a corpo, o Espantalho pode ser um oponente temível. Muito por culpa de uma espécie de dança violenta por ele executada, e que mais não é do que uma combinação de artes marciais, nomeadamente boxe e kung fu. Visando aumentar a letalidade deste seu singular estilo de luta, o vilão costumava usar uma gadanha. Ocasiões houve também em que amarrou seringas aos dedos das mãos para assim poder injetar a sua toxina do medo nos adversários que ficassem ao seu alcance.
   Num passado recente, o Espantalho, na qualidade de associado da Tropa Sinestro (cuja força motriz é o medo), recebeu temporariamente um anel energético. Essa foi, de resto, a segunda vez em que o vilão esteve prestes a ser incorporado nas fileiras da impiedosa força intergaláctica comandada por Thaal Sinestro. Anos atrás, o Espantalho já fora selecionado para herdar o anel energético de um operacional da Tropa morto em combate. Seria, contudo, impedido de se tornar usuário dessa formidável arma pela ação dos Lanternas Verdes Hal Jordan e John Stewart.

Espanta-morcegos.

Histórico de publicação: No outono de 1941, Bob Kane e Bill Finger (criadores do Batman dois anos antes), introduziram o Espantalho em World's Finest nº3. Essa seria, no entanto, uma das raras aparições da personagem ao longo da chamada Idade do Ouro dos quadradinhos. Apenas em 1967, quando se viviam já os derradeiros dias da Idade da Prata, o Espantalho foi resgatado do limbo. Aconteceu nas páginas de Batman nº189, com o vilão a ser reapresentado como um dos fundadores do Gangue da Injustiça (coletivo vilanesco onde pontificava também a Hera Venenosa). Devendo-se a Gardner Fox (perfil já publicado neste blogue) e a Sheldon Moldoff a reabilitação de uma personagem que parecia sentenciada ao ostracismo.

A estreia do Espantalho em World's Finest nº3 ( setembro de 1941) não teve honras de primeira página.

  Nas décadas seguintes, o Espantalho foi consolidando o seu estatuto de arqui-inimigo do Homem-Morcego, tornado-se presença assídua nas histórias do herói. A exemplo de muitas outras personagens do Universo DC, o vilão teve a sua origem retocada após Crise nas Infinitas Terras (1985-86). Seria no entanto já neste século que seriam revelados mais pormenores sobre o sórdido percurso de vida de Johathan Crane. Na minissérie de 2005, Batman/Scarecrow: Year One, foram exploradas novas premissas e introduzidos elementos inéditos na sua biografia.

A minissérie que reinventou o Espantalho para os nossos tempos.

    Num vertiginoso mergulho na retorcida psique do vilão, os leitores ficaram a conhecer as raízes profundas da demência do Espantalho, assim como a sua obsessão pelo medo e pela vingança. Consequências diretas dos abusos e humilhações de que ele fora vítima durante a sua infância e puberdade por parte dos seus colegas de escola. Abusos e humilhações esses motivados pelo seu porte desengonçado e pela sua personalidade antissocial.
   Anos mais tarde, esta variante da origem do Espantalho seria, também, objeto de nova revisão. Num conjunto de histórias da autoria de Jeph Loeb e Tim Sale, foi explicado que o pequeno Jonathan Crane fora criado por uma avó fanática religiosa. Essas e outras matizes realçaram ainda mais a natureza sinistra e perturbada daquele que é um dos mais perigosos inimigos do Batman. Estatuto reforçado na mitologia de Os Novos 52, na qual o Espantalho assume substancial protagonismo nas histórias do Cavaleiro das Trevas, surgindo retratado como um psicopata desumano, cujo grau de sadismo é suscetível de rivalizar com o do próprio Joker.

Apesar da sua fobia de corvos, o Espantalho chegou a adotar um como mascote.

Biografia: Nascido fora do matrimónio, Jonathan Crane foi um filho indesejado. Era apenas um recém-nascido quando foi entregue pela mãe aos cuidados da avó materna.O pai, esse, desaparecera da face da terra antes mesmo de o pequeno Jonathan ver pela primeira vez a luz do dia.
   Criado num ambiente de fanatismo religioso, o rapaz sofreu todo o tipo de sevícias físicas e emocionais, sobretudo às mãos da sua bisavó materna. Na capela da família, onde bandos de corvos habitualmente nidificavam, Jonathan era muitas vezes obrigado a vestir um traje contaminado com um químico de fabrico caseiro que enraivecia as aves, induzindo-as a atacá-lo. Profundamente traumatizado por estes macabros rituais, Jonathan desenvolveu uma fobia em relação aos pássaros.
 Dono de uma figura desconchavada a fazer lembrar Ichabod Crane (protagonista do conto The Legend of Sleepy Hollow, originalmente publicado em 1820), na infância Jonathan tornou-se o alvo preferencial das brincadeiras cruéis das outras crianças. Estas tinham por hábito apedrejá-lo e chamar-lhe nomes ofensivos, como Espantalho. Humilhações que germinaram nele um profundo desejo de vingança. Tolhido pelos seus próprios medos, Jonathan nunca tomou, porém, qualquer ação para pôr fim ao seu calvário.
  Na adolescência, Jonathan teve uma paixoneta por Sherry Squires, uma adorável colega de escola. Apenas para descobrir que ela namorava com Bo Griggs, um dos rufiões que mais o tinham arreliado em criança. Ainda assim, Jonathan encheu-se de coragem e convidou a rapariga para ser seu par num baile de máscaras. Sherry assentiu, mas, na verdade, ela e Bo pretendiam pregar-lhe uma cruel partida.
   Sob o falso pretexto de trocarem o primeiro beijo, na tão aguardada noite do baile, Jonathan foi atraído por Sherry para um celeiro escuro. Mascarado de Jack O'Lantern (figura do folclore anglo-saxónico entre nós conhecida como Cavaleiro Sem Cabeça), Bo Griggs surpreendeu o casal e perseguiu um apavorado Jonathan antes de o atingir na nuca com uma abóbora. A transbordar de rancor, o rapaz jurou vingar-se de mais esta infâmia.


 
   Meses depois, na noite do tradicional baile de finalistas, Jonathan vestiu pela primeira vez a sinistra fantasia de espantalho que se tornaria a sua imagem de marca. A ideia era pregar um valente susto a Bo e Sherry. Mas as coisas descontrolaram-se, redundando em tragédia.
   Munido de uma bisnaga de plástico, Jonathan aproximou-se sorrateiramente do carro onde os pombinhos namoravam. Assustado com a súbita aparição daquela aterradora figura, Bo arrancou a toda a brida, o que fez com que o veículo se despistasse, embatendo de seguida numa árvore. Desse acidente resultou a morte de Sherry e a paralisia de Bo. Em vez de sentir-se culpado pelo sucedido, Jonathan descobriu um estranho comprazimento com o medo alheio.
   Nada voltaria a ser como dantes depois daquela noite. Passadas algumas semanas, Jonathan assassinou a sua avó (a bisavó falecera entretanto) usando para o efeito o mesmo produto químico que elas haviam usado para torturá-lo ao longo dos anos.
  Concluído o liceu, Jonathan Crane mudou-se de armas e bagagens para Gotham City, onde estudou Psicologia na universidade local. Aluno brilhante, tornou-se o protegido do conceituado Professor Avram Bramowitz. No entanto, apesar do enorme respeito e admiração que nutria pelo seu mentor, Crane sentia-se frustrado perante a pouca importância que este atribuía à psicologia do medo.
 Em virtude desse facto, Crane empenhou-se em aprofundar os seus conhecimentos na área da Química, graças aos quais desenvolveu pouco tempo depois um potente alucinogéneo que levava as pessoas a enfrentarem os seus maiores medos. Como cobaia para testar os seus efeitos, ele escolheu não outro que o próprio Bramowitz. Com a morte deste, Crane pôde assumir o seu lugar como professor de Psicologia, focando-se no estudo do medo e das fobias.
  Granjeando a fama de excêntrico devido à forma pouco convencional como lecionava, Crane seria demitido na sequência de um inusitado incidente. A fim de  demonstrar a reação do organismo humano num contexto de medo extremo, Crane disparou uma pistola em plena sala de aula. O alvo seria um jarro de flores mas, devido ao ricochete da bala, uma aluna foi atingida de raspão na face. Episódio que comprometeu irremediavelmente a sua carreira académica.
  Não muito tempo depois, Crane regressaria à universidade para chacinar os responsáveis pela sua expulsão. Sem que as autoridades o conseguissem associar ao crime, assumiu entretanto as funções de psiquiatra residente no Asilo Arkam. Instituição para criminosos insanos onde não faltavam cobaias para as suas tenebrosas experiências. Crane adotou entretanto a alcunha com que o tinham ridicularizado na infância: Espantalho.
  Agora transformado no retrato vivo do medo, o Espantalho despertou a atenção de um Batman em início de carreira. Em articulação com o também recém-promovido capitão James Gordon, o Cavaleiro das Trevas vinha investigando a morte do reitor e de quatro lentes da Universidade de Gotham. As pistas levá-lo-iam a Jonathan Crane, que acabou encarcerado no Asilo Arkham.
  Depois de ter integrado o Gangue da Injustiça, a Sociedade Secreta de Supervilões e outras organizações criminosas, nos anos mais recentes o modus operandi do Espantalho desabilitou-o para trabalhar em equipa. Optando antes por firmar alianças pontuais com outros vilões, sempre que tem pela frente adversários de maior envergadura. Apesar de ter o Cavaleiro das Trevas e seus escudeiros como principais inimigos, o Espantalho já enfrentou também, entre outros, a Supergirl e o Monstro do Pântano.

Nas amarras de um pesadelo sem fim.
    
Noutros media: Ocupando desde 2009 a 58ª posição no ranking IGN dos Melhores Vilões De Todos Os Tempos, a influência do Espantalho há muito que exorbitou a banda desenhada. Apenas um ano após a sua repescagem, em 1968 o vilão ganhou vida pela primeira vez no pequeno ecrã. Foi num episódio da série animada The Batman/Superman Hour. Nela, em vez do seu icónico gás do medo, o Espantalho usava uma substância atordoante que guardava em ovos.
  Com mais ou menos preponderância, o vilão foi marcando presença em sucessivas séries de animação com a chancela da DC, quase sempre tendo Batman como cabeça de cartaz. Ainda na TV, uma versão juvenil de Jonathan Crane foi apresentada num episódio da primeira temporada de Gotham, série de ação real que serve de prequela aos filmes do Homem-Morcego. Nos quais o Espantalho também já deu um ar da sua (des)graça. Interpretado pelo ator irlandês Cillian Murphy, o vilão participou em toda a trilogia do Cavaleiro das Trevas dirigida por Christopher Nolan.

Cillian Murphy como Espantalho em Batman Begins (2005).

   A sua estreia cinematográfica poderia, no entanto, ter ocorrido em finais dos anos 90, não fosse pelo cancelamento de Batman Triumphant, aquele que seria o quinto capítulo da franquia do Homem-Morcego iniciada em 1989. Nicholas Cage, Steve Buscemi e Jeff Goldblum foram alguns dos atores equacionados para o papel. Ao que consta, no filme o gás do medo do Espantalho serviria para ressuscitar o Joker (morto na película original).
 Outros pontos altos da carreira do Espantalho fora das histórias aos quadradinhos, correspondem às suas participações em três filmes de animação estrelados pelo Cruzado Encapuzado (entre eles, Batman: Assault on Arkham, lançado apenas em DVD em 2014) e numa dezena de videojogos baseados no universo DC (destacando-se, neste campo, o aclamado Batman: Arkham Asylum de 2009).

Evolução visual do Espantalho nas séries animadas do Batman.