18 setembro 2015

HERÓIS EM AÇÃO: BESOURO AZUL




   Com uma origem que remonta à Idade do Ouro dos quadradinhos, é um dos mais vetustos heróis ainda em atividade. Antes de granjear notoriedade sob os auspícios da DC Comics, foi propriedade intelectual de três outras editoras. Tantas quantas as encarnações que contabiliza no seu currículo.

Nome original da personagem: Blue Beetle
Criadores: Charles Nicholas (Besouro Azul I); Steve Ditko (Besouro Azul II); Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner (Besouro Azul III)
Licenciadora: Fox Comics/Holyoke Publishing (1939-1951), Charlton Comics (1952-1968) e DC Comics (1983 até à atualidade)
Primeira aparição (Besouro Azul I): Mystery Men Comics nº1 (agosto de 1939)
Primeira aparição (Besouro Azul II): Captain Atom nº83 (novembro de 1966)
Primeira aparição (Besouro Azul III): Infinite Crisis nº5 (março de 2006)
Identidades civis: Respetivamente, Dan Garret/Garrett, Ted Kord e Jaime Reyes
Afiliação: O primeiro Besouro Azul teve um adjunto juvenil chamado Sparky. O seu sucessor passou pelas fileiras da Liga da Justiça Internacional (LJI), das Aves de Rapina e, mais recentemente, da Tropa dos Lanternas Negros. Na sua encarnação moderna, o herói teve uma passagem fugaz pela rediviva LJI e pelos Novos Titãs.
Bases de operações: Respetivamente, Nova Iorque, Chicago e El Paso, Texas
Armas, poderes e habilidades: Na sua versão primitiva, o Besouro Azul possuía força, agilidade e resistência amplificadas devido à Vitamina 2-X. Substância que, tal como o traje à prova de bala que envergava quando enfrentava malfeitores, lhe fora providenciada por um farmacologista chamado Dr. Franz. A fonte dos seus poderes passaria contudo a ser o Amuleto do Besouro Azul (ver informação detalhada mais adiante neste artigo) quando, já na Idade da Prata, os direitos da personagem foram adquiridos pela Charlton Comics.
    Já o segundo Besouro Azul tinha como principal arma o seu génio criativo. Rivalizando nesse campo com o próprio Batman, Ted Kord concebeu uma vasta parafernália tecnológica para o combate ao crime. Entre as suas mais admiráveis invenções avultavam duas: o Inseto (nave em forma de besouro alimentada por energia solar) e a Arma Besouro (pistola que tanto disparava clarões ofuscantes como rajadas de ar comprimido para aturdir os seus adversários). Ao seu formidável arsenal, o herói associava a proficiência em diversas artes marciais.
   Graças à sua relação simbiótica com o Amuleto do Besouro Azul, na sua encarnação atual o herói dispõe de livre acesso aos recursos conferidos por esse artefacto místico de origem extraterrestre. Para proteger o seu portador, o amuleto recobre-o com um exoesqueleto altamente resistente, resiliente (permitindo-lhe adaptar-se ao meio ambiente e às características dos oponentes) e com um versátil arsenal integrado.        Além de força sobre-humana, a veste concede ao seu usuário a capacidade de manipular padrões energéticos e frequências vibracionais. No entanto, é ativada apenas quando o indivíduo que a enverga se encontra em perigo. Durante o resto do tempo permanece alojada na sua coluna vertebral,o que torna o processo de ativação e desativação extremamente doloroso.

Da Idade do Ouro à contemporaneidade: três gerações de Besouros Azuis.

Amuleto do Besouro Azul: Sofisticada bioarma desenvolvida milénios atrás por uma raça de saqueadores alienígenas para ser uma espécie de cavalo de Troia nos planetas a serem alvos de pilhagem. Após fundir-se com a fisiologia do seu hospedeiro, o artefacto enceta um processo de reprogramação mental para torná-lo obediente às diretivas dos seus criadores. O indivíduo converte-se dessa forma num agente infiltrado no seu mundo natal.
  De acordo com as lendas, o Amuleto do Besouro Azul (também designado Khaji Dha) foi portado pela primeira vez na Terra pelo faraó egípcio Kha-Ef-Re, que usou os seus recursos para fazer prosperar o seu reino e manter os inimigos à distância. Certo é que o artefacto foi sepultado com o faraó aquando da sua morte. Ao longo dos séculos, muitos foram os que perderam as suas vidas a tentar reclamá-lo para si. Período durante o qual o amuleto foi infundido de energias místicas, responsáveis pela reconfiguração dos seus poderes.
  Em meados da década de 1920, Dan Garrett, um arqueólogo norte-americano, encontrou o sarcófago de Kha-Ef-Re e tornou-se o novo beneficiário do Amuleto do Besouro Azul. Resistindo à sua influência, Garrett empregaria os poderes do artefacto em prol da sua cruzada contra o crime.

Khaji Dha ou Amuleto do Besouro Azul.

Histórico de publicação: Dan Garret, o Besouro Azul original, debutou em agosto de 1939 em Mystery Men Comics nº1, título lançado nessa data pela Fox Comics. Nos anos ulteriores, o herói estrelou uma série própria, tiras de jornal e até um folhetim radiofónico. No entanto, à semelhança de outras personagens da Idade do Ouro dos quadradinhos, cairia na obscuridade nos alvores da  década de 50 do século passado.
  Antes, porém, de ser votado ao ostracismo, o Besouro Azul teve um percurso editorial errático. Ainda sob os auspícios da Fox Comics, a periodicidade da sua série sofreu múltiplas alterações e alguns números nunca chegaram mesmo a ser produzidos. Acrescendo a isto um hiato de 19 edições em que Blue Beetle chegou às bancas com a chancela da Holyoke Publishing.

A estreia do Besouro Azul ocorreu em 1939, em Mystery Men Comics nº1 (Fox Comics).
Capa da edição inaugural do primeiro título a solo do Besouro Azul, lançado em 1940 pela Fox Comics.

  No início dos anos 50, a Fox Comics encerrou portas e vendeu à ex-concorrente Charlton Comics os direitos autorais do Besouro Azul. Antes de a personagem ser revitalizada em 1964 pela sua nova licenciadora, teve ainda direito a uns quantos volumes avulsos.Que pouco ou nada acrescentaram à sua essência.
  Entretanto, foram feitos alguns retoques à sua origem e ao seu apelido (que ganhou um segundo T na sua grafia). De agente policial, Dan Garrett passou a arqueólogo. Expediente usado para introduzir uma nova fonte para os poderes da personagem. Expirado o seu prazo de validade, a Vitamina 2-X deu lugar a um milenar artefacto místico chamado Amuleto do Besouro Azul. Alterações ainda assim insuficientes para fazer o herói voltar a cair nas boas graças dos leitores.
 Após três tentativas fracassadas de lançar uma série a solo do Besouro Azul, a Charlton Comics recambiou-o para as páginas de Captain Atom. Foi precisamente nesse título de charneira da editora que foi apresentado pela primeira vez Ted Kord. Retratado como um antigo aluno de Dan Garret, após a morte deste, Kord assumiu o seu legado heroico.
  Mercê da sua crescente popularidade entre os leitores, o Besouro Azul teve direito a nova série própria em 1967. Apenas um ano antes do cancelamento de toda a linha super-heroística da Charlton. Circunstância que ditaria a alienação desse lote de personagens à DC Comics em 1983.
 Incorporado na cronologia da Editora das Lendas, o Besouro Azul foi paulatinamente adquirindo notoriedade. Sobretudo por via da sua participação na Liga da Justiça Internacional no período pós-Crise nas Infinitas Terras. Grupo onde reencontrou outro ilustre ex-inquilino da Charlton - o Capitão Átomo - e onde formou uma divertidíssima parelha com o Gladiador Dourado (ambas as personagens já tiveram os seus perfis publicados neste blogue).

O recauchutado Besouro Azul da Idade da Prata mereceu destaque na capa de Captain Atom nº83 (1966). 

  Já neste século, mais precisamente em 2006, a DC introduziu na sua mitologia um terceiro Besouro Azul. De seu nome verdadeiro Jaime Reyes, o neófito herói ganhou um título próprio inicialmente escrito pela dupla Keith Giffen/John Rogers e onde pontificava a arte de Cully Hamner. Equipa criativa que seria desfeita dez meses depois com a saída de Giffen. Passado pouco tempo, foi a vez de Rogers lhe seguir as pisadas.
  Blue Beetle seria cancelado ao cabo de 36 edições. Decisão justificada pelas baixas vendas, inversamente proporcionais às expectativas nele colocadas. Em 2009, numa tentativa frustrada de reeditar a sua parceria com o Gladiador Dourado, o novo Besouro Azul assentou arraiais em Booster Gold. Com a reestruturação cronológica decorrente de Os Novos 52, o jovem herói ganharia, dois anos depois, um novo título a solo.
 A exemplo de vários congéneres seus, a personagem teve a sua origem recontada no âmbito dessa iniciativa. Com a principal novidade a residir na ausência de qualquer ligação com as suas versões pregressas.

A triunfal entrada em cena do novo Besouro Azul em Infinite Crisis nº5 (2006).

Biografias:

* Dan Garret (Fox Comics): Nos seus primórdios de combatente do crime, o Besouro Azul original não dispunha de quaisquer talentos especiais. Tratava-se simplesmente do filho de um agente policial assassinado em serviço por um meliante. Seguindo as pisadas do seu malogrado progenitor, em adulto Garret ingressou no Departamento de Polícia de Nova Iorque. Em paralelo, atuava como um vigilante mascarado que fazia justiça pelas próprias mãos. Ganharia mais tarde um uniforme à prova de bala e capacidades físicas sobre-humanas graças à misteriosa Vitamina 2-X. Ambos desenvolvidos pelo Dr. Franz, um farmacologista que muito admirava a diamantina fibra moral de Garret, razão pela qual o quis apetrechar para a sua cruzada.

Dan Garret, o Besouro Azul original.

*Dan Garrett (Charlton Comics): As transformações operadas na personagem por altura da sua migração para a Charlton foram muito além do simples acréscimo de uma consoante ao seu apelido. Por contraponto ao seu predecessor, esta variante do Besouro Azul original era dotada de superpoderes. Tendo estes sido obtidos através de um amuleto místico descoberto durante uma escavação arqueológica no Egito. A metamorfose de Dan Garrett ocorria sempre que ele proferia as palavras mágicas "Kaji Dha" (qualquer semelhança com o grito "SHAZAM!" do Capitão Marvel poderá, ou não, ser coincidência).

Dan Garrett, Besouro Azul com visual e apelido retocados.

Ted Kord (Charlton Comics/DC Comics): Dono de um QI muito acima da média, Ted Kord era o mais brilhante aluno de Dan Garrett. Quando este morreu em combate como Besouro Azul, Kord assumiu o seu legado heroico. Contudo, não conseguiu aceder aos poderes concedidos pelo amuleto místico ao seu mentor. Facto que compensou desenvolvendo uma vasta gama de acessórios e aparatos tecnológicos capazes de causar inveja ao próprio Batman. Anos atrás, na sequência da sua descoberta de uma base de dados, pertença do Xeque-Mate e contendo informação exaustiva sobre todos os meta-humanos do planeta, o Besouro Azul foi executado a sangue-frio.

Ted Kord, o mais emblemático dos Besouros Azuis.


*Jaime Reyes: Filho adolescente de um modesto casal de imigrantes mexicanos radicados em El Paso, certo dia Jaime encontrou num baldio o Amuleto do Besouro Azul. Intrigado, levou o insólito objeto para casa.  Nessa noite, enquanto o jovem dormia, o artefacto místico fundiu-se à sua espinha dorsal, induzido-lhe pesadelos. Com a ajuda do Gladiador Dourado, Jaime aprendeu a origem dos seus recém-adquiridos poderes, assim como a dominá-los. Outro dos seus mentores foi o Pacificador (Peacemaker, no orginal), personagem que outrora também fez parte da mitologia da Charlton Comics.

Jaime Reyes, um Besouro Azul para o século 21.

Noutros media:  Entre maio e setembro de 1940, o Besouro Azul (Dan Garret) teve uma efémera carreira radiofónica. Durante esse período foi o cabeça de cartaz de um folhetim relativamente bem-sucedido, embora com um registo mais ligeiro do que outros programas do género, como aquele que tinha na mesma época o Homem de Aço como protagonista. Curiosamente, quase 60 anos depois, em 1998, a personagem (agora na sua encarnação Ted Kord) desempenharia um pequeno papel no audiolivro da autoria de John Withman que adaptava a esse formato a novelização da saga Kingdom Come (Reino do Amanhã).

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Cartaz promocional do folhetim radiofónico estrelado pelo Besouro Azul em 1940.

  Contudo, só neste século e já com Jaimes Reyes, é que o Besouro Azul se estreou no restante panorama audiovisual. Foi na série animada The Brave and the Bold (2008-2011), na qual também participou o seu antecessor (Ted Kord).
  Ainda no pequeno ecrã, mas agora em séries de ação real, o Besouro Azul marcou presença num episódio da última temporada de "Smallville", onde contracenou com o outro astro convidado: ninguém menos que o Gladiador Dourado. Também na segunda temporada de "Arrow" foram feitas referências às Indústrias Kord. Ao que parece, o intuito seria incluir o Besouro Azul na temporada seguinte da série. Afirmando ter outros planos para o herói, a DC obrigou a sua substituição por Ray Palmer (Átomo/Eléktron).

Encontro pouco amistoso entre o Besouro Azul e o Gladiador Dourado em Smallville.

  Recentemente, o ovacionado argumentista Geoff Johns anunciou na sua conta do Twitter que estaria em curso um casting para uma hipotética série televisiva baseada na versão moderna do Besouro Azul. Dada a atual proeminência dos super-heróis no cinema e na TV, não será de estranhar se, para gáudio dos fãs, o projeto vier mesmo a materializar-se.

Ouro sobre azul: certas amizades são eternas.